Exagerado

Pense em um cão consumista. Eu explico: ele nos consome. Você dá a mão, ele quer o braço, você dá o braço, e ele quer tudo.

É assim. Quero cozinhar, mas ele quer brincar. Então traz os brinquedos para o meu pé, e eu ainda tenho que arrancar o brinquedo da boca dele. Vou lá fora e jogo a bola, o osso, ou o pote de plástico, e antes que eu chegue ao fogão ele já está lá de novo com o brinquedo na boca.

Faço carinho, mas ele quer mais. Vamos passear, mas ele quer sempre mais. Jogar bola? Correr atrás dos brinquedos? Só a gente se cansa, ele incansável!

A menina que estudar, e ele deixa? Nós viajamos e deixamos os dois em casa, ela disse que ele deixou de ser de ser sua sombra, e se tornou sua segunda pele...

Vou atender, ele quer brincar, não vai dar desta vez, e ele se deita ao nosso lado. Pelo menos já não perturba. Vou dar curso, ele quer brincar com todo mundo. O jeito é deixá-lo na guia, amarrado no pé da poltrona. Não que ele fique muito feliz, mas pelo menos está junto...

Junto, no meio da bagunça, na cama, na rua. Sofrimento é ver qualquer reunião lá fora, gente, criança, cachorro... Ele quer estar junto!

Se vamos sair de carro, quem entra primeiro que todos? Alguém o convidou? Não, mas vai tirá-lo de lá... É muito rapidinho o tal.

Pensei que talvez um outro cãozinho lhe faria companhia. Afinal ele late para sua imagem nos espelhos da casa. Quer brincar. Vê seu reflexo no vidro do forno do fogão, arranha, gane, late, esfrega seu osso cor de rosa no vidro, para ver se o cão do outro lado vai tirá-lo dele. Quer brincar. Tolinho, o outro é você mesmo! Mas ele não se convenceu disso.

Outro cão, só se fosse outro Jack, com energia igual para dar conta do recado. Com certeza iam se distrair muito. Mas e quando se juntassem para correr na cerca atrás dos carros? Ou latir para os cachorros da vizinhança? Já é difícil controlar um, imagine dois? E ter que treinar dois cães?

E se fosse uma cachorrinha? Ah que beleza! Uma ou duas vezes por ano e teríamos uma linda e perturbadora ninhada... E eles têm muitos de cada vez!

Espantei os pensamentos perturbadores. Basta um cão danado e a música do Cazuza na cabeça!