Socorro! O cachorrinho pegou a minha dentadura!
Creio que roubar a dentadura do vovô merece dar início ao blog do Bento! Bento é nosso novo amigo, ele tem apenas seis meses de idade, mas muita, muita energia! E uma boa dose de esperteza também.
Vovô e vovó vieram para Brasília para completar o serviço da dentadura do vovô. Há seis meses eles estiveram aqui conosco, e a magreza do vovô de 89 aninhos de idade, nos fez providenciar as novas dentaduras com um implante de pinos para a fixação da inferior, mesmo contrariando a vontade do velho senhor, que desejava comer apenas papas e mingaus ao final de sua vida...
Da primeira vez, Bento ainda não estava conosco, vovô chegou no dia seguinte da lamentável morte de nosso fiel Woody. Meu velho pai tomou o lugar de nosso velho cãozinho em nossos cuidados.
Mas desta vez eles encontraram Bento, um Jack Russel cheio de disposição para muitas artes! Naquela bela tarde de outubro em Brasília iríamos ao dentista para a fixação dos tais pinos na dentadura do vovô, mas Bento sequestrou a ditacuja na varanda da casa. Não sei dizer como tudo aconteceu, se meu pai virou para baixo e a tal caiu de sua boca, ou se ele a retirou e a colocou no colo. Tudo que ouvi foram os gritos aflitos de meu pai sentado no banco: Socorro! O cachorrinho pegou minha dentadura!
Bento sabia que tinha um tesouro entre os dentes, e parecia sorrir de felicidade com os dentes do vovô entre os dentes caninos... E correu, correu muito, enquanto eu doida corria atrás dele, e o meu pai gritava lá da varanda!
Eu não podia perdê-lo de vista, ou teríamos uma dentadura enterrada em algum canto improvável do quintal. O jeito era continuar correndo, o que para ele era pura diversão! E assim ele dava voltas nos canteiros, comigo atrás gritando e ameaçando.
De nada adiantou eu jogar o chocalho indígena para ele, e o que mais eu considerasse de interesse dele, ele não trocava seu novo brinquedo por nada! Depois de intermináveis voltas, e injustas, já que ele corria muito mais que eu, comecei a gritar por ajuda, e por fim apareceu meu marido.
Assustado com a bronca que levou, Bento parou deitado na grama, tempo suficiente para eu meu jogar sobre ele, abrir sua boca e retirar dela a dentadura babada, mas intacta!
Ao final daquela mesma tarde meu pai sorriu com sua dentadura firme na boca, sem mais desculpas para as sopas e papinhas.
Mas quis o destino nos pregar uma peça, e ao final da semana meu pai teve problemas de saúde, e por fim uma isquemia temporária, que o levou a ser internado no hospital por dez dias. Sua boca ficou torta e as dentaduras não mais couberam...
Depois de mais algumas voltas, o destino colocou a boca do meu velho pai no lugar, e as dentaduras também. Ufa!
Vovô e vovó já estavam há mais de um mês aqui em casa, então foi a vez do carretel de linha ser surrupiado pelo cão arteiro. Eu ouvi um barulho de carretel sendo mastigado em algum lugar da casa, lembrei-me que minha mãe tinha pego um para costurar naquela manhã, e fui até a sala conferir.
A caixa com a costura estava sobre o sofá da sala, mas o carretel e a agulha não estavam lá. Imediatamente pensei na agulha cravando entre os dentes ou na boca do safado, e saí atrás dele. Ele sabe quando faz alguma besteira, e nesta hora corre para bem longe da gente.
Chamei minha mãe e corremos as duas atrás dele, enquanto ele se divertia pulando entre os canteiros e nos fazendo de bobas! Atirei os limões e mangas do quintal para atraí-lo, mas nada haveria de fazê-lo soltar o precioso carretel!
Por fim, eu atirava em vão meus chinelos sobre ele, mas só depois de muita canseira ele bobeou e eu consegui agarrá-lo e tirar da sua boca o carretel. Mas a agulha não estava lá, e também não estava entre os dentes do cão. Então minha mãe se lembrou de ter colocado a agulha em outro lugar... Menos um problema!
...Meus pais foram ontem embora, e Bentinho não tem mais a quem seguir pela casa, nem tem mais com quem ver televisão à tarde toda. Não pode mais acompanhar os dois idosos em suas voltas pelo quintal, e não acha mais graça dormir debaixo da cama do vovô sem ter mais ninguém no quarto. Enquanto meus pais estavam por aqui, Bento era a "figura oculta" por trás do vovô...
Então ele dormiu esta noite debaixo de nossa cama, e hoje nos perturbou o dia todo para que atirássemos coisas para ele pegar, cavou um buraco na jardineira, e roubou um lápis que consegui pegar de volta já destruído... Ele continua o mesmo Bentinho de sempre!
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