Louco por carros


Bento adoooora um passeio de carro. Ele aprendeu a ir na frente, no chão do banco ao lado do motorista. No chão, mas com as patas dianteiras sobre o banco, juntinho de quem estiver lá. Assim ele espicha o pescoço e vê a rua.

Como é interessante a rua! Tantos carros, árvores, prédios, gente, e mesmo outros cães como ele! Tem gente que sabe ser feliz com coisas tão simples! Os cães são assim.

Bento gosta até mesmo de um passeio bem curtinho, de dois mínimos minutos, quando vou deixar Lu no ponto do ônibus, a um quilômetro de casa. Quando Lu diz: já vou! É a deixa para nosso amiguinho desabar escada abaixo, e correr para a garagem antes mesmo que o motorista apareça por lá.

Em geral a motorista sou eu. E, se não houver outra coisa para fazer, digo: Pode vir Bento! E ele já está empoleirado junto às pernas de nossa amiga. Se não eu digo: hoje não vai dar... E ele fica lá na varanda, vendo o carro partir sem ele, e partindo é claro nosso coração junto.

É sempre assim. Ou quase sempre. Outro dia ele aprontou muito, e eu disse para ele: você não vai não, está de castigo. E o cão entrou cabisbaixo porta adentro. Fechei a porta de correr da cozinha para a varanda, a porta de abrir da área para a garagem, e saímos, Lu e eu, tranquilamente de casa.

Neste dia havia muito trânsito. Ficamos esperando uma brecha entre os carros um tempão, depois do portão da guarita, já em frente a rua. Então ouvi um arranhão na minha porta. Seria um pássaro? Olhei pelo vidro fechado e vi um rabo branco!!!! Abri a porta do carro e Bento pulou para dentro, para se empirulitar no banco do carona.

Eu e Lu gelamos. Olhamos uma para a outra, com os corações ecoando de aflição, enquanto pegamos a direção do ponto de ônibus. O cão sorria de felicidade... Conseguiu pegar sua carona...

Refiz mentalmente todo o acontecido. Mandei ele para dentro de casa e fechei as portas. Fechei? Não havia trancado a porta de correr, ele abriu, desconsiderou o castigo, correu a tempo de pegar o portão da casa ainda aberto, correu e pegou o portão da guarita também aberto, passou invisível pelo zelador, e arranhou a porta com a pata para que eu abrisse. Por sorte eu fiquei esperando um bom tempo antes que pudesse entrar na rua. Ou eu não quero nem pensar...

Ele é assim, louco por um passeio de carro. Mesmo que seja por dois míseros minutos...

Bom, mas houve o dia da vingança. Fui pegar minha cunhada no aeroporto e fui logo chamando, Bento, vem comigo, vamos pegar a tia de carro! Ele só felicidade, pulando em cima de mim, até pisei na pata dele. E então me lembrei que deveria levá-la direto do aeroporto para o médico. Desculpe Bento, você não vai mais comigo...

E deixei o bicho com aquela cara de tristeza de fazer dó no coração mais empedernido, o que nem é o meu caso.

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