Quando Bento me inspira



Uma teoria sobre a unidade

Estou no sofá de casa lendo a apostila de Rolando Toro. Meu cão, um Jack Russel muito afetuoso e intenso, deita-se ao meu lado e aparentemente dorme. A uma respiração mais brusca que dou ele mexe as orelhas. Dou-me conta do efeito que o animal me provoca: 

“Percebo que na proximidade é como que se nossos campos se misturassem, sinto-me tocada emocionalmente por ele. Percebo esta conexão, e também outras que ele me revela. Um cão late bem longe, e ele meio levanta as orelhas e fica assim durante muito tempo. Um trovão ao longe, um pássaro canta, e nada disso acontece ‘longe’ para Bento. Parece que tudo acontece ‘dentro dele’. Na verdade o mundo que vemos ‘lá fora’, para o cão não é lá fora, o mundo pertence a ele, e ele ao mundo, numa unidade perfeita. Ele sente-se bem ao nosso lado, quando um de nós está sozinho em casa, ele caminha o tempo todo ao nosso lado. Se vamos ao banheiro o encontramos deitado colado à porta ao sairmos. Minha filha não consegue estudar com Bento no quarto, pois tem vontade de beijar e abraçar o cão o tempo todo. Ele nos mobiliza afetivamente, mais, ele nos provoca uma ‘ânsia de amor’. Ele nos chama à unidade do coração, inclementemente.

Não acontece assim somente com este cão, um bebê interfere desta forma conosco, uma flor, uma bela paisagem, um pássaro ou outro animal. Eles não conhecem a separação, vivem na unidade e nos chamam a ela. A pessoa amada também nos comove, ela pode estar do outro lado da sala, em outro país, mas nos atrai como a luz aos insetos. Dançar com ela, falar com ela, estar perto dela, mesmo que não a toquemos, nos traz a sensação da unidade.

O universo conhece a unidade, mas nós humanos, nos desconectamos deste todo, e vivemos a ilusão da separação. A separação é causa de todos os males deste mundo: a guerra, o ódio, a perseguição, a indiferença, o medo e a necessidade das defesas. Reencontrar a unidade perdida nos traria de volta à sanidade, e então poderíamos criar um mundo de paz e cheio de amor. O caminho é o coração, como atesta meu pequeno cão.”

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